sexta-feira, dezembro 10, 2004

SEXTA-FEIRA...10

Eu nem dava por nada absorvido que ia no meu passo cadenciado e com mil e uma coisas a fervilharem-me na cabeça. As coisas do quotidiano, sabem? os cêntimos (agora já não de dizem tostões e como apesar de tudo, soava bem a fonética do vocábulo!, a familiaridade que havia com a moeda...), que não esticam, o puto que tem problemas na escola, a mulher que solta áis desmesurados a toda a hora, seja por queimou o assado ou porque a mãe lhe serrazina os ouvidos a toda a hora «que não devias ter casado com aquele gajo tão cedo, que não tem um emprego estável, sempre a meter-se na política... se ainda isso lhe trouxesse alguma vantagem, mas não; meteu-se logo num partido pequeno...», que eu bem sei o que me dizem nas costas...mas é para o lado que durmo melhor. Também hoje penso que não me devia ter enforcado logo aos vinte e dois, que é que pensam? que a contabilidade da vida se faz só para um lado?! nã senhor!...é para os dois....Mas agora não há que chorar, que ainda não inventaram transportes para o regresso ao passado e que se já estamos nisto há quase dez anos...

Ouvi a voz inconfundível do Matos, meu vizinho e antigo companheiro na tropa: «Gaspar! Olha que se passou ali qualquer coisa da grossa!». E apontou-me o meio da rua onde se juntava um cículo de pessoas que falavam acaloradamente, umpedindo a marcha do trânsitonaquela via. Destesto estas cenas, do "interesse doentio" do pessoal que discute, opina, toma partido e se envolve por vezes em grossas discussões por via dos acidentes que cada multiplicam nas estradas portuguesas. Mas as palavras das pessoas (que iam aumentando em quantidade à medida que nos aproximavámos e onde se ouvia acima de todas a da Fátima do "Unisexohair-dresser" que era vista em tudo o que era sítio menos na loja...que dizia ser «...impossível o que passa neste país! mata-se e nem se pára! que o cobardolas fugiu!». Não consegui ver quem se encontrava no centro do círculo que aumentava o grupo de gente que o compunha mas dele afastou-se uma velhota que teve em tempos um lugar de fruta ao pé da casinha dos passes, a Dona Matilde que vinha de lágrimas nos olhos...Afastei-me para lhe dar passagem e logo atrás dela o Marques da casa dos pneus, agora reformado. A esse inquiri: «Quem é que foi atropelado? é pessoa conhecida?...». Nem me deixou dizer mais nada que estava vermelho, fora de si que «Isto é uma pouca vergonha, não se pode sequer atravessar a estrada pela passadeira, que ele tinha esse hábito todos o sabiam e aquele assassino passou-o a ferro!!está morto!!». Mas, volvi eu, «quem é que morreu, homem?!». Gesticulando, lá me respondeu: «Atão não sabe? não viu?! Foi o Benfica, o gato preto do café do Ferreira!! toda a gente gostava do animal, que isto não se faz, que...».

Afastei-me com o meu amigo Matos, mais um pouco à conversa e a caminho de mais um fim de semana.
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