quinta-feira, fevereiro 03, 2005

SEM SOMBRA DE PECADO

Não! não ides! ficai ainda,
gracil e donairosa donzela!
que és tão sublime e linda,
quão difícil é ser mais bela!

Oh! que misterioso e belo cavaleiro!
não vos conheço, és um estranho;
será que quereis o meu dinheiro
ou afastar esta ovelha do rebanho?

Nem uma ou outra coisa é verdade;
vóis sois o sol que me ilumina !
és o oposto da noite: a claridade,
mas também o receio que me domina.

Vossa fala é difícil de entender,
mas soa bem... como música matinal;
ao certo, que me quereis oferecer?
ajudar-me nas lides do quintal..?

Se soubésseis o que me vai na alma,
como freme este meu doido coração,
decerto não mostrarias essa calma,
que incendeia inda mais esta paixão!

Vocês podem não acreditar, mas nestas coisas do amor não consigo dominar as minhas personagens. Senão reparem: o cavaleiro inicia o seu discurso todo falinhas mansas que até parece que não faz mal a uma mosca. Por seu lado, a beldade ingénua e indefesa transpira tanta insegurança e temor que se lhe nota na fala o bater dos dentes. Sol de pouca dura, que é ela que toma a iniciativa e coloca questões objectivas; do género: ou sim ou sopas, que tenho mais que fazer. Volta-se o feitiço contra o... cavaleiro que se perde no diálogo, anda ás apalpadelas e só tarde, a más horas e de verve incandescente, contra-ataca.

Não tendo mão no bicho, corto-lhe a palavra. Não se admirem; se o deixasse prosseguir havia de ser o bom e o bonito. De um medievo e idílico amor, ambientado por verdes bosques luxuriantes e de raios de sol rasgando as copas das árvores, este sítio, tornar-se-ia tal antro devasso e pútrido que nem o quero comparar a nada.

Ainda não é desta que escrevo uma ópera. Deve andar para aqui um fantasma...





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