segunda-feira, janeiro 17, 2005

O PRINCÍPIO do FIM

...e eu perguntei-lhe, pretendendo denotar alguma casualidade: «e se nos casássemos?». pelo compasso de espera até chegarem as palavras, pelo inesperado da questão colocada, face ao contexto da conversa banalíssima de um fim de domingo -tínhamos acabado de ver o último filme de woody allen, era evidente que bruno ponderava o que iria dizer, ele que sempre me habituou à resposta rápida tipo "o troco debaixo da língua" . parou e disse apenas: «vamos para o carro». chegámos a almirante reis num repente, sem trocar palavra e nunca o vi conduzir tão rápido. parou, beijou-me e articulou em tom inseguro: «hoje não fico contigo; tenho de acabar o mais depressa possível aquele projecto que me está a dar cabo da cabeça. boa noite».

na segunda-feira não me falou para combinarmos o almoço. nem terça. liguei para o móvel logo pela manhã, na quarta, : desligado; a seguir para o atelier e atendeu-me o sócio, o rui, "que ele tinha partido para bruxelas no princípio sa semana, para uma série de reuniões e que só voltava no sábado". as coisas estavam a precipitar-se! mas que raio! uma relação de quase dois anos, sem problemas de maior, apenas aqueles amuos normais de duas pessoas que se gostam; desconversávamos por ninharias, que no essencial o acordo era quase total, faziamos sexo com prazer (pelo menos nunca lhe ouvi uma queixa nesse sentido e eu também nunca me desapontei), o "sentido da vida" -o desgoverno dos governos, a crise em que o país estava mergulhado e como as pessoas respondiam a tal, a consonância roçava o óptimo...pois; é verdade que sempre nos portámos como dois namorados, que nunca fizemos, ou falámos em projectos para uma vida a dois, que cada um de tinha a sua casa, mas com franqueza, um de nós tinha de tomar a iniciativa no sentido de dar um rumo certo e responsável às coisas...

talvez eu tenha sido demasiada abrupta; que a oportunidade não deva ter sido a melhor. sempre me condenei por esta mania de falar a destempo e agora o resultado está à vista, que o assustei com uma proposta tão inesperada e quem sabe!, talvez lhe tenha parecido um ultimato. ainda há tão pouco tempo estávamos tão felizes. recordo-me especialmente na festa de aniversário dele na passada semana: vinte e seis anos!; dançámos a noite toda e o resto do pessoal olhava-nos num misto de surpresa e admiração. notei mesmo nos rostos de algumas colegas do seu curso uma pontinha de inveja...nem sei o que fazer. por agora limito-me a chorar...sem lágrimas, que já se esgotaram. e depois, o que mais pode uma mulher de oitenta e cinco anos fazer?

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