sexta-feira, novembro 12, 2004

DA VIDA para ALÉM da MORTE (3)

Espero que se encontrem bem de saúde "aí por baixo" que eu "cá" vou andando às voltas com os meus amigos defuntos animados e prezenteiros e com um ditado na boca que por "aqui" se usa por tudo e por nada: "a morte é apenas o fim da vida; que o início do nada, começa agora!". Ainda não consegui decifrar em pleno o significado de tal frase porque o tempo "aqui" é escasso para conseguir ver e apreender tudo o que se vai desenrolando à minha volta e que não deixa de ser surpreendente ("um admirável mundo novo" como diria Aldous H.e que ainda não tive o prazer de encontrar por "aqui"...). Mas retomemos o fio à meada.

"Aqui" não se trabalha, nem o verbo consta em qualquer gramática local. É assim, o local ideal para muita gente que conheço, mas que não abdica de...estar vivo.Assim sendo não existe a figura de administrador ou de patrão. Nem tão pouco sindicatos, manifs, greves e afins relacionados com o labor de cada um; "aqui" não se gastam os neurónios nem se transpira por via do exercício laboral. Também não há fins-de-semana, feriados ou férias. De férias estamos sempre e o tempo está por nossa conta. O tempo é sobretudo utilizado para comunicar. A converseta é o grande passatempo do pessoal. Quem chegar "aqui" e não seja amigo de dar à língua, passa por uma estação de reciclagem e sái de lá a falar pelos cotovelos.Até os mudos...

O problema da habitação também não se coloca no "além". Os mortos não dormem, não comem, não defecam, nem têm problemas com a continuação da espécie...o que resolve milhentas situações económicas e ambientais; limitam-se a andar e a falar, o que já não é nada mau para a sua condição de defuntos. Não existe por isso privacidade (aí "em baixo" normalmente defendida por quatro paredes para os mais pobrezinhos e duplexs para os mais abastados) e ninguém se chateia com isso pois nada se faz ou diz de inconveniente ou incómodo para os olhos e ouvidos de outrém. Ah! e outra coisa não menos importante: por "aqui" anda tudo nú; sem vergonhas ou complexos. O corpo (a matéria) deixou de ter qualquer importância ou sentido. E com esta "parte" é que eu embirro!...por isso quero ver se apanho uma oportunidade e me raspo o mais rápido possível, para o vosso convívio. Bom fim de semana e intés!!

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