quarta-feira, outubro 27, 2004

A TIA

Não imaginem coisas que não é dessas tias que vou hoje falar; nem hoje nem nunca que por aqui não se dá guarida ou visibilidade a figuras decorativas e ocas que fazem subir as audiências de qualquer canal televisivo que se preze ou vender resmas de revistas do coração -que raio de nome com que baptizaram estes pasquins, não sendo menos verdade que basta que os meus olhos, inadvertidamente, caiam num deles escarrapachados à porta de uma tabacaria, sinta de imediato um aperto na válvula mitral-, dessas denominadas "tias da linha" e porque não, do "traço e da côr" que algumas delas em colectivo bem se podiam organizar em exposição artística na Culturgest ou em Serralves com um título a propósito: FRIVOLIDADE. Por outro lado não gosto mesmo nada de ser criticado e ver o meu bom nome manchado por fazer a mínima referência a tais figuras criadas pelos media com perversas e horrorosas intenções: de ganhar dinheiro fácil e tentar fazer esquecer os graves problemas com que o país se debate, técnica antiga e gasta mas que continua a surtir o efeito desejado nas massas...

É pá! o que para aqui vai! pensarão vocês. O Bertus ensandeceu ou está a procurar lugar no PS de Sócrates?! Ou a posicionar-se para ter uma colunazinha de opinião num jornal de referência? Ou ainda a experimentar novos caminhos literários, quem sabe espreitando a possibilidade de publicar um livro, um dos seus mais secretos sonhos e que não há maneira de ver concretizado? Será que se vai safar "desta" sem passar pela cadeira do psiquiatra? Questões pertinentes, claro, mas que não têm a mínima razão de serem formuladas pois apenas se trata de um exercício de auto-avaliação o qual pratico com alguma regularidade para saber se "posso continuar a contar comigo próprio" em termos intelectuais ou...de sanidade mental. E não há dúvida que os resultados são sempre animadores até ao presente momento...

A tia de que vos vinha falar -o tempo verbal está certo: vinha de vir, pois o tempo acabou por quase se esgotar com a longa introdução com que iniciei este artigo, um mau hábito que quero ver se consigo anular a breve trecho, pois me faz perder o fio á meada-, de seu nome Sara, vivia em Cascais (numa modesta vivenda com uma insignificante piscina de quatro pistas)e sempre perseguiu o sonho de fazer televisão. Os reality shows na tv chegaram a Portugal tinha ela quarenta anos. Uma idade já avançada para se iniciar qualquer coisa. Uma vez, numa das últimas visitas que lhe fiz, confidenciou-me: «Sabes que a tua tia gostava imenso de aparecer na pantalha e cantar, declamar, contar as viagens que fiz e mostrar o enorme guarda-roupa que tenho no guarda-vestidos mas, mesmo com algumas cunhas, acho que nunca lá chegarei...». Tinha razão; finou-se cedo e com o desgosto de não ver concretizado o desejo...e com imensas dívidas contraidas pelo meu tio Pedro que não era peco nas noitadas com gajas e jogatana. Por herança, coube-me um casaco de vison que não uso por motivos óbvios. Intés!!
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