quarta-feira, dezembro 15, 2004

CONVERSA FIADA

Onde é que nós íamos? ah sim, do real para o virtual ou vice-versa. E dizias tu que este nosso encontro não está a acontecer de facto, com duas pessoas que se conhecem da blogsfera, que o nosso conhecimento até combinarmos este almoço, está alicerçado em fundamentos estrictamente virtuais e que essas pessoas nada têm a ver com estas que aqui se defrontam em dimensões reais, olhos nos olhos pesquisando ávidamente a cara do parceiro na tentativa de descobrir alguma semelhança, algum sinal que a imaginação fabricou. E argumentas que é de todo impossível que eu "possa ser ao mesmo tempo real e virtual", que "quando estás no virtual te comportas totalmente diferente do modo como estás neste restaurante, que aqui pestanejas, as tuas mãos manejam os talheres para levar o peixe-espada à boca; no virtual tenho de acreditar na tua palavra se me dizes que estás a almoçar bacalhau com natas...e não se prende apenas com a questão de confiar na tua palavra. Porque um gajo sendo virtual não tem de usar forçosamente os mesmos padrões de comportamento da vida real...e se os usa, abusa de uma cenografia construida de tal efeito que a sua imagem seja aquilo que ele pretende que o outro imagine. Debita palavras e mais palavras. O seu corpo é construido unica e simplesmente por vocábulos e sinais pontuáveis; não tens cara, braços e não andas, percebes?"

Para quê refutar este tipo que me caiu literalmente no prato, que o encontro para o almoço até partiu dele, que me diz que eu não sou eu e que ele não é ele. Para o que eu estava guardado, caraças!O melhor mesmo é acabar o peixe-espada -e raios me partam se este peixe não é verdadeiro que está delicioso-, o vinho também é de boa cepa e se, segundo o meu parceiro de conversa, isto "não está a acontecer" então o gajo que pague os almoços que eu pisgo-me e nem bebo café!
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