sábado, fevereiro 26, 2005

NOTÍCIA

Por afazeres inadiáveis que não possibilitam ao autor "estar por aqui" com a regularidade possível para convosco "dialogar", este blog encontra-se encerrado durante as próximas duas semanas. Intés!!

quinta-feira, fevereiro 24, 2005

REPRESENTAÇÕES

O desespero
que me trespassa a mente
não dói não delicera
e quase não se sente;
desespéro tão só à espera
de triviais acasos do destino
de cenas onde pontua o desatino...
de resto nada de dramático
é mais pelo oficio de fingir tanto
pelo pulsar compulsivo errático
que de mim me faço espanto
e desespéro.

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O autor percebe perfeitamente que não pode, nem deve! caminhar impune e rasando sistemáticamente o fio da navalha. Há desafios que se tornam perigosos não só pela transgressão mas também pela teimosia.
Desafiar estados de alma nunca fez bem ao físico e ao intelecto e se a factura não é apresentada hoje, pode muito bem ser quando menos se espera. Avisado destas elementares regras de bem viver, o autor, ao fazer-se de desentendido, parece estar a procurar que lhe façam a cama...
E tu: hoje já paraste uns segundos e te questionaste?! Já perguntaste a ti mesmo o que andas a fazer aqui na blogsfera? Não?? Lindo!, afinal não sou só eu...

terça-feira, fevereiro 22, 2005

O CORPO do POEMA

na verdade
das tuas mãos nascem poemas.

as tuas mãos não mentem
quando frémitas e sedentas
me revolteiam o cabelo
me envolvem o torso.
dizem-me tudo o que sentem
desnudam-me e percorrem-me
preludiando ritos anseios
sem pejo nem remorso.

no meu corpo
as tuas mãos escrevem poemas
de verdade.

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O autor, desta vez e por mirabolantes equilibrismos, escapa por milímetros ao poema mais sexy (quem sabe se até a roçar o porno...e para tal bastava as mãos da moça descerem mais abaixo...) e que decerto lhe renderiam milhentos comentários...mas nestas coisas a contenção é muito bonita e capitaliza a admiração geral; e se já se viu em palpos de aranha para se imaginar a ser alvo de insinuantes mexidelas no cabelo...sendo perfeitamente calvo...O mais avisado será ficar por aqui.

sábado, fevereiro 19, 2005

A DEMOCRACIA em FORMATO A-4

era de fala afável, em redondo,
nenhuma palavra a mais ou aguçada que fosse;
calmamente pôs-lhe uma mão no ombro:
amigo, não adivinha o que aqui me trouxe?
despertá-lo para as benesses da democracia;
musculada, firme e de facto intransigente
(e não é que tinha convicção no que dizia?),
a partir de hoje, vai ter por conta muita gente,
gente sem passado (e futuro!) tão omisso
que apenas reclamam parcas regalias...
e que ganho eu com tudo isso,
além do gordo vencimento e mordomias?
inquriu o outro, desconfiado da fartura.
ganha o reino dos céus, a bem aventurança
...nada de mais ou de contra-natura,
para quem passou a vida a encher a pança.


Hoje o autor não comenta o seu próprio poema; em tempo de eleições e quase à boca das urnas, não deseja que lhe seja imputado o labéu de propagandista de qualquer uma das forças em compita e quase lhe apetecia dizer que ganhe o melhor; só que o "assunto" desta vez é muito sério e não se pode (ou deve) confundir com futebóis. Que se cumpra o desígnio português...mais uma vez.

quinta-feira, fevereiro 17, 2005

DE VIAGEM

Parti cedo e

ao mapa do teu corpo regressei
recolhi pistas informes e sinais
corri ruas frondosas de prazer
e tu eras
as alamedas imensas que beijei
e rotundas delirantes tão reais
que só tinha uma coisa a fazer...

... e fiquei.



O autor, ao contrário do que tinha dado a entender em comentários ao post anterior, uma vez mais flectiu (anda a aprender com a classe politica...está bem de ver...), deu o dito por não dito e ei-lo agarrado como lapa ao rochedo da poesia.
Agora nem se ouve a si próprio, só quer cantar, cantar o amor, a lua cheia ou em quarto crescente...mesmo que isso não interesse a toda a gente, rimar paixões cheias de amantes, as de hoje e as de antes, versejar às namoradas, noivas ou amigas...que o resto são...cantigas.

...eu que não tenho procuração do Bertus, sempre vou adiantando: o bacano "passou-se"!
Porquinho da India.

terça-feira, fevereiro 15, 2005

AS DUAS FACES DA MOEDA

oh! é tão belo o teu rosto
que se o quisesse cantar
decerto me notarias.
mas...
é do teu rosto que gosto
das promessas do olhar
que sem olhar me verias.

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O autor continua a perseguir a via poética na busca incessante da perfeição, tão cara ao homem enquanto criador. Os comentários ao anterior poema desafiaram-no a prosseguir sem receio do escárnio, da risada malévola ou dos "muito bem" condescendentes. Se não é menos verdade que esta não é a sua área (reconhece-o sem dificuldade uma vez que o seu trabalho literário não é classificável...) também pensa porque razão não há-de desbravar caminhos diversos aos que até então tem trilhado.

Poemar não é fácil; exige estar longe de perto. Cada sílaba de um poema que vai conhecer a luz do dia é uma parte, embora ínfima, do corpo do autor e da sua alma. Ao lerem-me, estarão a um palmo de distância de mim. Por isso, aconselho calma com a história dos autógrafos, que sou um bocado frágil e um empurrão mais violento pode-me mandar desta para melhor...e lá se acaba a escrita e o prazer de estarem comigo.

(Uma vez que já não os surpreendo pela comicidade, chegou a altura de falar a sério...)

sábado, fevereiro 12, 2005

QUESTÃO ADIADA

o que me sobrou deste dia
que caminha noite dentro para o fim?
o gosto que gosto dos teus lábios vermelhos,
ou a dor que me dói dentro de mim?
amar amor-te por demais(?!)
relevar palavras frescas da matina,
o traçar ponto por ponto o mapa do teu corpo,
ou reduzir-me ao hábito da rotina?
o que me sobrou deste dia?

...............................

O autor irá deitar-se da mesma forma de sempre: horizontalmente e de consciência tranquila. Amanhã de manhã será um novo dia; com o decorrer das horas, esquecer-se-á das interrogações que fez a si próprio, embrenhado nas solicitações de que normalmente um poeta é alvo. Uma conferência na Sociedadade os Amigos das Letras do Feijó, a leitura de meia dúzia de poemas a uma dúzia de velhotes com imensas dificuldades auditivas na inauguração de um lar -ao qual atempadamente, foi convidado a dar o nome (A Derradeira Etapa foi o que lhe ocorreu pelos seus gostos velocipédicos...) e o lançamento do seu último livro de poemas, "O Canario Amarelo do Meu Vizinho Preto"...um achado de título...no Salão Nobre da Euterpe Sezimbrense.

quinta-feira, fevereiro 10, 2005

TEMPOS MODERNOS

Estava na fila para tirar os bilhetes para o cinema. Só me apercebi que ele se aproximava quando uma voz feminina logo atrás de mim, falou em tom baixo (sentimo-nos como culpados se não podemos ou não queremos ajudar e daí pretender que a negativa não faça eco pelos outros e por isso o estratégico abanar de cabeça, tem cada vez mais seguidores) e seco um "tenha paciência". A ele então, ouvi perfeitamente dizer «tenho paciência uma ova! Não pode ajudar um desgraçado com uma moeda, mas para o cinema já há, não é?!» O registo de voz soava a diferente do pedinte normal e "profissional" que por hábito é quase gutural e arrastada, muitas das vezes "dramatizando" a miséria, tornando-a mais miserável ainda. Este separava e respirava correctamente as palavras e não gritava para atrair a atenção de quem estava próximo ou procurando intimidar o interluctor. Não; era como se estivesse a acompamhar a mulher na ida ao cinema e de uma conversa natural se tratasse. Porque não obteve resposta dela, acrescentou «daqui não levo nada, está visto! hoje está um dia para esquecer!».

Deu um passo em frente e colocou-se a meu lado; «pode ser que consigo tenha mais sorte. que também vai ao cinema é claro, senão não estava aqui; por acaso até tem cara de pessoa que de vez em quando dá uma moeda aos desfavorecidos...resta saber é se dá mesmo. acertei? posso contar com a sua ajuda? um euro ou dois já não era mau.» Vi-lhe a cara pela primeira vez. Era um gajo dos seus quarenta e poucos anos, alto, barba espessa e negra, por desfazer e com um olhar daqueles que costumamos definir "de tarado" mas ao mesmo tempo, irónico; não era um gajo fácil, não, e a merda da fila não andava nem desandava. Procurei ganhar tempo, fingindo que remexia os bolsos do blaser, pois já tinha decidido que não lhe ia dar nada, aliás não costumo dar esmolas, que desde o tempo da outra senhora se dizia "que dar esmola, era atrasar a revolução..." e este slogan marcou-me para o resto da vida... mas também não gosto de dizer assim tão simplesmente, que não...Enquanto isso, ele olhava-me nos olhos e depois perguntou «vai dizer-me que não tem moedas, não é? é a velha história...mas se disser que aceito notas? que responde a isso?». A fila movia-se e ele acompanhava-me os passos. Estava a duas pessoas da bilheteira e...da salvação.

Sem que nada o fizesse prever, agarrou o meu braço esquerdo tirou algo da algibeira do blusão e disse-me «não se preocupe. este cartão tem o meu endereço e telefones, veja o filme descansado, se precisar levante dinheiro com calma e depois passe por essa morada; também recebo esmolas em casa. até logo».

terça-feira, fevereiro 08, 2005

O NÃO POST

O que eventualmente não estarão a ler não é um post, não é um artigo sobre o rapto de uma criança que vivia num bairro social da periferia, não é uma crónica trágica de um acidente de viação que ceifou a vida a cinco membros da mesma familia, não é um texto-ensaio sobre um político cujo maior sonho era ser presidente de uma junta de freguesia, não é um conto infantil de vaquinhas sem tetas, bois sem cornos e agricultores sem tomates, não é uma anedota tirada da net, requentada, escrita em brasileiro-português e sem piada nenhuma. Este post que não estão a ler podia ter sido tudo e não é nada. O Porquinho da India não existe e vocês nunca estiveram aqui.

sábado, fevereiro 05, 2005

O POEMA

Há uns tempos a esta parte que ando a lutar comigo próprio, para vos deixar aqui (ou não) um poema. Mas claro que não se trata de um qualquer poema; este, seria no mínimo e na minha modesta opinião, um poema que arrancaria palavras elogiosas, embora contidas (porque não havia mesmo mais nada a fazer), daqueles que fazem do seu blog "um sítio de poemar"; dos outros, adeptos confessos e apenas, da prosa, acredito que o espanto encantatório ao ler tal pérola, seria o mais comum. Dos ainda outros que não têm blogs de qualquer espécie, que deixam comments cheios de erros ortográficos, estariam em crer estar, na presença de um futuro Prémio Nobel...Comentários como "...sim, é muito bom, mas que se cuide que esta carreira está cheia de escolhos...", ou "é um predestinado para as letras, vai ter um belo percurso!" e "é o maiore pueta portuguêz do mumento!!", seriam habituais neste espaço.

Escrever o post de hoje a uma hora pouco habitual e em pleno fim de semana, foi o que me levou a quebrar as últimas resistências e a decidir publicar esse poema. Porque vão ter "todo o tempo do mundo" para saborear as letras, degustar as frases e lamber os dedos de genuino prazer literário. Deixem tudo o que estão a fazer, cheguem aqui e leiam-me; e depois digam-me se isto não é qualquer coisa!!


argúcia

porque sou tão absolutamente arguto?
interrogo-me sem esperar pela resposta,
que o que se expele deste genial cocuruto,
não é matéria que se ponha assim à mostra.
questionar-me não é mais que uma rotina;
é como untar a frigideira com margarina,
é sobretudo dar o dito por não dito,
e consciente, mandar fritar o piriquito!

...as batatas fritas demoram muito?!

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

SEM SOMBRA DE PECADO

Não! não ides! ficai ainda,
gracil e donairosa donzela!
que és tão sublime e linda,
quão difícil é ser mais bela!

Oh! que misterioso e belo cavaleiro!
não vos conheço, és um estranho;
será que quereis o meu dinheiro
ou afastar esta ovelha do rebanho?

Nem uma ou outra coisa é verdade;
vóis sois o sol que me ilumina !
és o oposto da noite: a claridade,
mas também o receio que me domina.

Vossa fala é difícil de entender,
mas soa bem... como música matinal;
ao certo, que me quereis oferecer?
ajudar-me nas lides do quintal..?

Se soubésseis o que me vai na alma,
como freme este meu doido coração,
decerto não mostrarias essa calma,
que incendeia inda mais esta paixão!

Vocês podem não acreditar, mas nestas coisas do amor não consigo dominar as minhas personagens. Senão reparem: o cavaleiro inicia o seu discurso todo falinhas mansas que até parece que não faz mal a uma mosca. Por seu lado, a beldade ingénua e indefesa transpira tanta insegurança e temor que se lhe nota na fala o bater dos dentes. Sol de pouca dura, que é ela que toma a iniciativa e coloca questões objectivas; do género: ou sim ou sopas, que tenho mais que fazer. Volta-se o feitiço contra o... cavaleiro que se perde no diálogo, anda ás apalpadelas e só tarde, a más horas e de verve incandescente, contra-ataca.

Não tendo mão no bicho, corto-lhe a palavra. Não se admirem; se o deixasse prosseguir havia de ser o bom e o bonito. De um medievo e idílico amor, ambientado por verdes bosques luxuriantes e de raios de sol rasgando as copas das árvores, este sítio, tornar-se-ia tal antro devasso e pútrido que nem o quero comparar a nada.

Ainda não é desta que escrevo uma ópera. Deve andar para aqui um fantasma...





terça-feira, fevereiro 01, 2005

ENAMORAMENTO

ele, escutava-a embevecido e bebia-lhe as palavras gota-a-gota; ela, adornava a fala com gestos que desenhavam no ar cenários de amores jamais vividos..e sorriu-lhe. ele, retribuiu o sorriso com outro sorriso (este a prometer futuros inolvidaveis), pegou na mão direita da rapariga e levou-a num movimento pausado, aos lábios. depois, quase que em simultâneo, aproximaram as bocas e beijaram-se longamente.

«CORTA!!» berrou uma voz à minha rectaguarda esquerda, quebrando o momento mágico e dirigindo-se aos jovens na esplanada; «vocês não se podem esquecer, que mais importante que o vosso amor, é a garrafa de refrigerante que deve ficar entre vós e bem visível; vamos repetir!». Deixei o dinheiro do café em cima da mesa, dobrei o jornal e desandei.
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